A EAPN Portugal é parte da Rede Europeia Anti-Pobreza, que é composta por redes nacionais, regionais e locais de ONGs, e foi fundada em Bruxelas em 1990. Logo no ano seguinte criou-se a rede portuguesa. Por ocasião do XI Fórum da EAPN Portugal, que tem por tema as relações da imprensa com a pobreza, falámos por telefone com a sua directora executiva, Sandra Araújo*.
«Cada pessoa escolheu a palavra que quis escrever no seu próprio corpo»
PM: Esta nova campanha é diferente, em que difere de outras anteriores? SA: Esta campanha é protagonizada pelas próprias pessoas em situação de pobreza, não por técnicos de organizações. Foram pessoas que decidiram dar o corpo e a alma, que se ofereceram, não fizemos casting, nem ensaios, a EAPN não interferiu. Voluntariaram-se sete pessoas e pedimos ajuda ao Pedro Neves para elaborar o projecto. Cada pessoa escolheu a palavra que quis escrever no seu próprio corpo. Foram elas as protagonistas da campanha, porque sabem melhor que ninguém. Queremos a consciencialização da importância do combate à pobreza e isso depende também das pessoas e do seu empoderamento.
PALAVRAS COM CORPO E ALMA. PORQUE A POBREZA NÃO É FICÇÃO.
«A EAPN tem intervenção a nível político»
PM: Como descreve o vosso trabalho? SA: É um trabalho no dia-a-dia, trabalhamos em várias situações em todo o país. A EAPN tem intervenções a nível político junto dos governos, dos parlamentos e dos partidos, nomeadamnte para que esta luta seja inscrita nos seus programas. Fazemos também com que a informação seja acessível aos actores para influenciar a acção. Temos projectos em curso no terreno: um protocolo com o IEFP respeitante à empregabilidade dos desempregados de longa data, dos que recebem o RSI e estamos a incluir a empregabilidade das comunidades ciganas — trabalhamos a nível municipal. Temos núcleos em todos os distritos, e agora também na Madeira. Damos igualmente atenção à formação de técnicos no sector privado e no sector público. Tem de haver assistência porque há que responder às necessidades básicas para se poder depois avançar.
«Mudar o modelo económico… é quase um trabalho de sapa»
PM: Como é que se luta contra a pobreza num sistema que está feito de desigualdades, num sistema que é ele mesmo criador de pobreza? SA: É preciso mudar as estruturas que produzem a pobreza. Mudar o modelo económico implica uma escolha política. É quase um trabalho de sapa. Há muitos estereótipos associados à pobreza e acabar com eles é um trabalho moroso. Neste Dia Internacional de Combate à Pobreza , a EAPN faz um pouco de altifalante.
*Sandra Faria Araújo é natural de Moçambique e tem 50 anos de idade. É licenciada em Serviço Social pelo Instituto Superior do Porto, com uma pós-graduação em Gestão de Organizações Sem Fins Lucrativos pela Universidade Católica — Centro Regional do Porto.
Entre 1992 e 1994 exerceu funções de técnica superior de Serviço Social no Projecto de Luta Contra a Pobreza, no Centro Histórico de Gaia.
Em 1994 ingressou na Rede Europeia Anti-Pobreza e integrou o Projeto GIIF (Iniciativa Comunitária Horizon) exercendo funções nas áreas da informação e formação. Entre 1996-1999 foi membro da equipa da EAPN responsável pela concepção e implementação de um projecto comunitário no quadro da Iniciativa Comunitária Emprego — Eixo Integra, para a construção de redes locais de desenvolvimento e solidariedade social (PROJETO SIFAT). Este projecto expandiu ao nível nacional a Rede Europeia Anti-Pobreza com a implementação de núcleos regionais.
Entre 1999 e 2006 assumiu funções de Coordenadora Técnica Nacional com particulares responsabilidades nas áreas de: desenvolvimento e formação da Instituição; desenvolvimento de projectos nacionais e comunitários; dinamização de grupos de trabalho temáticos e representatividade instituicional em diferentes instâncias nacionais e europeias.
Desde 2006 exerce o cargo de Directora Executiva da instituição. A sua actividade profissional tem estado intimamente ligada ao combate à pobreza e às desigualdades sociais; à análise e leitura política das medidas e programas sobre as quais a EAPN tem necessidade de se pronunciar; à coordenação de gestão de projectos de dimensão nacional e internacional e à gestão de recursos humanos.
É também sub-directora da Revista Focussocial, Revista de Economia Social da EAPN Portugal.