Teria feito este mês 100 anos. Foi provavelmente o maior intelectual português do sec. XX, com uma obra notável na poesia, na prosa, no ensaio, na crítca… Dedicou-se à língua e à literatura portuguesas como poucos. Mas a cultura em Portugal tem destas coisas: trai e abandona os verdadeiramente grandes ao oblívio. Onde estão as comemorações que o país lhe deve? Onde pára a divulgação das suas obras? Exilado em vida do outro lado do Atlântico, regressado depois do 25 de Abril para logo repartir, morreu lá fora, lembrado apenas por uns quantos admiradores e amigos.
Numa biblioteca municipal, uma usuária pergunta se têm Sinais de Fogo. Não, não têm nem está emprestado. E a funcionária não conhece. Por acaso, passa a bibliotecária e a funcionária depois de se assegurar do título pergunta-lhe: ó doutora, não temos, pois não? Não e nem conhece.
Era a bibliotecária a dar exemplo da ignorância nacional. Sim, era uma pequena biblioteca, com poucos livros, e não se pode conhecer tudo. Mas o título do único soberbo romance de Jorge de Sena não ser conhecido da bibliotecária? Não é pobreza, é miséria.