Ontem, com a história da tempestade, não descansei enquanto não tive a minha ninhada toda em casa. Depois de ir buscar a Maria à creche, faltava-me os mais velhos chegarem da faculdade. Por volta das 20:00 h a Smartieteen chegou encharcadinha até aos ossos, mas finalmente já estávamos todos em casa, e eu fiquei mais tranquila.
De repente veio-me à memória a história dos três porquinhos. Lembrei-me daqueles que em vez de casa de tijolo, têm casa de madeira ou de palhinha.
À hora do jantar vi muitas reportagens sobre casas e lojas inundadas, vi a tristeza de uns quantos desalojados, e a notícia de uma lamentável morte. E é triste de facto. Muito triste.
Mas e os que nem casa têm? Os que tiveram de passar esta noite na rua, à chuva e ao vento? Veio-me à memória os rostos de alguns dos “meus” sem-abrigo.
Há semelhança do que foi feito em anos anteriores em noites de temperaturas demasiado baixas e com a violência dos ventos e da chuva de ontem, bem que se podia ter permitido a estas pessoas recolherem-se nas estações de metro ou em abrigos por esse país fora.
Desta vez não houve esse cuidado, ou houve?
Não estava um frio de rachar, é verdade, mas aquilo não eram condições para ninguém permanecer sem qualquer tipo de recolhimento.
Não devo com toda a certeza ter sido a única a pensar nisto, mas o que me espantou foi que não houve um único canal de televisão que mencionasse sequer o assunto. Pelo menos que eu tenha visto. Uma pessoa não consegue ver e ouvir todos os canais ao mesmo tempo, e perdoem-me se algum jornalista mencionou o tema, porque mais do que mostrar a desgraça dos efeitos da tempestade, também compete à comunicação social pensar nestas alturas em quem vive na rua, questionar o que por eles se está a fazer, o que não se está a fazer, e por que razão não se fez.
Chama-se meter a boca no trombone ou escrever aquilo que ninguém quer ver escrito, mas que precisa de ser dito. Tudo o resto são as chamadas “reportagens para encher chouriços”, que foi o que eu me fartei de ver ontem.
Susana Esteves