Todos os dias os sites de denúncia de ilegalidades e abusos laborais recebem queixas sobre o comportamento das empresas durante e aproveitando-se da pandemia que vivemos. Empresas portuguesas e estrangeiras em território português, que há muito menosprezam e esmifram os seus trabalhadores com salários de caca e condições de trabalho irrecomendáveis, estão a mostrar mais do que nunca neste momento de crise o seu desprezo pelo bem social e a sua única preocupação: o lucro.
Apenas um exemplo
Um exemplo disto chega-nos reportado pela associação Resposta Solidária. A sua denúncia diz detalhadamente o seguinte em relação à EDP:
«A EDP – Energias de Portugal impõe a precariedade aos trabalhadores que fazem as leituras dos contadores de electricidade, contadores estes que cada um de nós tem à porta de casa ou dentro da mesma… Estes trabalhadores e trabalhadoras, há anos a falsos recibos verdes, ganham por cada leitura que fazem, e as despesas de deslocação para assegurar que estas leituras são feitas saem do seu próprio bolso.
Para fazerem o seu trabalho, andam de concelho em concelho, têm de chamar os clientes, tocar às campainhas, mexer em portões, caixas de contadores, entre outras situações que colocam a segurança de quem trabalha em risco. Reportam-nos que a EDP não fornece equipamento de proteção nem assegura as recomendações da DGS no que diz respeito à segurança e higiene de quem trabalha.
Em tempos como o que vivemos, em que só os trabalhos essenciais deveriam estar a ser realizados, a EDP que poderia recorrer a estimativas, deu indicações para que parassem de fazer as leituras dos contadores interiores, mas que continuassem a fazer aos exteriores. Esta medida fará com que estes trabalhadores baixem forçosamente os seus salários para níveis não aceitáveis, por via de baixar o número de contadores aos quais podem fazer a leitura.
Esta empresa, que terminou o ano de 2019 com lucros de 519 milhões de euros, devia ter vergonha, por depois de tantos anos a manter estas pessoas nesta situação de precariedade, não assegurar o mínimo de condições e segurança. Estas pessoas deviam ter contrato de trabalho e só por isso estão sem rendimentos e sem direitos quando o imprevisto acontece. A EDP tem no imediato de garantir que continuam a receber o salário. E, de uma vez por todas, esta empresa tem de celebrar contrato de trabalho com direitos com estas estas pessoas, como já deveria ter acontecido há vários anos».
Graça Jacinto/Resposta Solidária